Por
Rev. João d'Eça
Nós os ocidentais não entendemos bem o que é a Jihad atual e como e onde ela surgiu, quem a patrocina e quais os aspectos políticos e religiosos que estão por trás disso tudo.
A questão é: porque que eles se matam entre si, matam os outros e ainda acham que vão para o paraiso? Matar não é expressamente proibido do Alcorão? Na verdade é! A palavra "inferno" aparece por 97 vezes no Corão e a proibição para se matar um muçulmano está no capítulo "A Mulher" (4:93) e diz: "E para qualquer um que matar um crente (muçulmano) intencionalmente, sua punição será o inferno; ele vai morar lá, e Deus vai enviar sua ira sobre ele e amaldiçoá-lo, e preparar para ele uma dolorosa punição".
Note que "qualquer um" se refere a crentes e infiéis indistintamente. Esse verso também é claro quanto à isenção de culpa em acidentes, mas não em sentenças de morte. Mais adiante temos (4:115) – "E qualquer um que agir de forma hostil ao profeta depois da orientação (crença no deus único e no profeta) se manifestar nele, e seguir outro caminho diferente do dos crentes, nós (os crentes) vamos torná-lo no que ele tornou a si mesmo (infiel) e vamos fazê-lo entrar no inferno, um lugar de encontro do mal". Bom, a partir desses dois versos revelados a Maomé, foi criada uma ideologia chamada salafi (ou salafismo) e seu prolongamento mórbido, takfiri (ou Takfirismo). A transliteração (não a tradução) das diversas formas do árabe para línguas latinas ou européias é confusa, como a do hebraico, gerando várias formas incorretas. A palavra na qual todos precisam ficar ligados é "kafir" Ou "kufar", que significa "infiel". Ela apareceu muito nos cartazes contra os cartuns de Maomé. Ou seja, dentro do islã existem muçulmanos e kafiris. Você já deve ter percebido onde vou chegar. Takfiri é aquele que determina que fulano de tal é um kafir. Entendeu?
Existe um tipo de muçulmano, que baseado em 4:115 e em alguns outros versos, atribui o caráter de "infiel" de "descrente" a outro muçulmano. Takfiris acabam sendo clérigos sem formação teológica, auto-nomeados em suas próprias seitas e interpretam as ações de outros muçulmanos como sendo contra ou a favor do profeta ou de deus. Vamos a alguns exemplos. Policiais iraquianos colaboram com americanos: são determinados como infiéis. Civis vendem mercadorias e não fazem greves ou não apóiam a resistência iraquiana: são infiéis. Mulheres muçulmanas andam com rosto descoberto: são infiéis. Governantes e líderes políticos fazem ou tentam fazer acordos com ocidentais: são infiéis. Príncipes e outros membros de famílias reais tem fortes laços comerciais com ocidentais: são infiéis. E por aí vai.
Para um membro de seita takfiri a possibilidade de denominar outros como infiéis é enorme e irrestrita. Qualquer muçulmano pode ser "transformado" em infiel à revelia enquanto vivo. Aliás, os infiéis só possuem o direito de morrer e ir para o inferno.
Mas foram os muçulmanos que criaram esse sistema? Não. Isso é coisa da Igreja Católica Romana e começou na Primeira Cruzada, se estendendo até a última, feita pelo exército português no Norte da África. Há o Mandamento de "não matarás" (mais corretamente – não assassinarás) que acompanha os Cruzados, além de todos os pecados como: roubo, saque, estupro, tortura etc. Como então, em nome de Deus, tais exércitos também ignoraram os mandamentos da religião pela qual lutavam? Havia um documento chamado de "Bula Papal", onde o Papa da vez absolvia por antecedência todos os pecados que viessem a ser cometidos pelos Cruzados enquanto em missão pela Igreja. Isso é muito bem documentado. É o takfirismo ao contrário.
"Meu líder religioso me absolveu de todos os pecados que eu vier a cometer, portanto posso cometê-los sem receio de ir ao inferno ou morrer sem ser absolvido. Meu líder religioso determinou que aquelas pessoas as quais eu vou matar não são mais muçulmanas, são infiéis, são kafiris e pela minha religião tenho o dever de levá-las ao inferno".
No Brasil, a maioria das mesquitas que surgiram nos últimos 10 a 15 anos são regidas por salafis, o xeque que nelas opera é salafi, e boa parte das pessoas que as freqüenta, se já não são salafis, estão sujeitas à pesada propaganda e às pressões ideológicas, políticas e religiosas dos adeptos do salafismo. O que isto quer dizer? Quer dizer que mesmo aqui no Brasil, os muçulmanos que não se dobrem à mentalidade salafi, sejam eles simples fiéis de outros ritos ortodoxos ou praticantes do sufismo, poderão ser perseguidos, caluniados, excluídos do ensino muçulmano e das outras atividades e eventos da comunidade, afastados das mesquitas, e nos casos mais extremos até vítimas de agressões verbais e físicas, como já acontece em outros países.
Isto quer dizer também que pode haver no Brasil um número indefinido de pessoas ligadas ao setor mais extremista do salafismo, o takfirismo, que apóiam ativamente os movimentos extremistas e terroristas na Palestina e no Líbano (Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica Palestina) e até a al-Qaeda, como demonstra a estadia no Brasil em 1995 dos membros da cúpula terrorista, Osama bin Laden e Khalid Shaikh Mohammed.
Este apoio pode ir desde angariar fundos, até selecionar, recrutar e formar jovens para a luta armada, esconder e abrigar terroristas procurados, ou por fim fornecer material e locais para treinamento. Vários grupos terroristas islâmicos usam projetos e serviços sociais (escolas, hospitais, beneficência), mídia e editoras (principalmente revisionistas e de propaganda anti-semita e anti-americana), para sustentar e encobertar suas atividades ilegais e especialmente para recolher fundos particulares e até públicos sem levantarem suspeitas.
Quantos são, por exemplo, os descendentes de palestinos, sírios e libaneses no Brasil – principalmente da área de Foz do Iguaçu, São Paulo e Manaus – que doam dinheiro para as atividades legais e benéficas do Hamas ou do Hezbollah? Quanto dos fundos doados ajuda a financiar o terrorismo? Quanto recolhem os salafis para a zakat (o dízimo muçulmano) no Brasil e quanto é redistribuído nas comunidades salafis do mundo inteiro (ou para os militantes takfiri), sem que haja o menor controle da sociedade?
A maioria dos sectários e prosélitos do salafismo mal sabe ler e nunca leu livros, nunca leu o Corão. A prática do "está escrito no Corão" é utilizada à exaustão. Mesmo a maioria dos próprios xeques salafi sabem pouco ou nada das doutrinas islâmicas, senão nem poderiam aderir a um movimento que distorce e manipula a doutrina sagrada e refuta seus exemplos mais elevados. Todos se contentam em seguir e adotar sem questionamento os ensinos e ditados primários que lhes são repassados por ideólogos e líderes sem escrúpulos. O salafismo tira proveito da falta de cultura formal das massas muçulmanas, que foram perdendo suas características culturais, suas tradições, suas estruturas internas e seus princípios sob a pressão do mundo moderno e ocidental, para recriar e impor um islã pretensamente "universal", "purificado" de seus costumes locais e tradições antigas, e portanto adaptável a todas as sociedades, principalmente urbanas.
Os alvos do salafismo não são as comunidades reais, ainda sólidas e estruturadas, mas os indivíduos isolados, produto do desmembramento de suas nações, coletividades, famílias, que buscam sua identidade perdida numa fé sem passado, sem fundamentos reais, sem verdadeiro conteúdo a não ser um fanatismo primário, cego e obtuso. Um dos alvos mais importantes são os convertidos ao islã, aos quais são apresentados os valores salafis distorcidos e não o islã tradicional. Isso vai ficando cada vez melhor documentado quando lembramos dos dois ingleses (convertidos) que atacaram um café cheio de jovens na praia de Tel-Aviv, e dos ataques em Londres, nos quais três terroristas eram jovens muçulmanos na faixa dos 20 anos e um era jamaicano recém convertido ao islã, além de vários outros presos em Guantânamo, incluindo aí um monte de americanos convertidos ao islã. Existe ainda uma última consideração. Paraíso e inferno são eternos, pelo menos até o Dia do Julgamento Final. Ir para um ou para outro por uma interpretação de um verso é algo muito estranho. Mesmo que os suicidas não atinjam nem um nem outro de seus objetivos acabam entrando imediatamente numa eternidade tecnológica, um paraíso virtual, que é a Internet, cheia de páginas com fotos, vídeos e áudios dos suicidas e seus líderes, com canções e poesias feitas em sua homenagem, praticamente sem referência à suas vítimas, que continuam anônimas infiéis...
Publicado em Mídia Judaica Independente